Entrevista Parte1: Carlos Latuff, arte a serviço da transformação

Entrevista: Carlos Latuff, arte a serviço da transformação

 

Lafuff cria desenhos de crítica à política do Estado de Israel.

Popular em muitos lugares do mundo, o chargista brasileiro Carlos Latuff ganhou o globo com suas charges de protesto. Entre as temáticas mais abordadas por ele no Brasil estão a causa indígena e a violência e extermínio que sofrem os jovens do país. No entanto, foram e continuam sendo os desenhos de crítica à política do Estado de Israel e sua adesão à causa palestina os que ganham adeptos e críticos ferrenhos, principalmente no Oriente Médio.

Thiago Silveira, via Adital em 17/4/2015

Carioca radicado no Rio Grande do Sul, Latuff conversou com a Adital, no último mês de março, por ocasião do debate “Palestina: notícias de um apartheid e de uma luta”, evento promovido pelo Sindicato dos Servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (Sindsifce). Bem humorado, o cartunista conta sua experiência quando visitou a Palestina, fala do engajamento de seu trabalho e da situação do Brasil atualmente com a onda de protestos contra o governo.

Ameaçado de morte e acusado de ser um dos maiores antissemitas do mundo, o cartunista acredita na arte como promotora de novas ideias e como contraponto à massa de informações alienantes, com as quais a população é bombardeada todos os dias. “A poesia, a arte chega no coração das pessoas. A arte pode ser um instrumento de manutenção das coisas como estão ou ela pode despedaçar esse estado de coisas, pode ajudar a criar rachaduras. É isso que eu acredito!”.

Adital – Você veio a Fortaleza para o debate “Palestina: notícias de um apartheid e de uma luta”. Você esteve na Palestina em 1998. Como começou a se dar essa relação?
Carlos Latuff –
 Quando eu estive lá, a situação ainda era “calma”, ou seja, não havia divisão entre Cisjordânia e Gaza; o Hamas não era governo em Gaza, era mais conhecido pelos atentados à bomba em Jerusalém e Tel Aviv; e não havia o muro de separação. Então, a situação lá era diferente da de hoje, mas, naquela época, também tinha a construção de assentamentos, a construção das chamadas “by pest worlds”, que são estradas por onde só passam colonos. E, para a construção dessas estradas, muitas vezes, é preciso demolir as casas palestinas. Você tinha os check points. As restrições de movimento.

O apartheid israelense era bastante claro já naquela época. Eu tive a oportunidade também de fazer um pouco essa coisa do jornalista, de ouvir as partes. Conversei com israelenses, em Tel Aviv, em Jerusalém; eu conversei com colonos em Hebron… Conversei com todo mundo para ter uma ideia mais realista do que estava acontecendo lá. Esses 15 dias que estive lá foram muito didáticos.

Adital – Ainda hoje, no Brasil, esse tema é muito superficial, falta entendimento do contexto em Israel, sobretudo na universidade. O que fazer?
CL –
 Eu acho que, no caso da academia, objetivamente em torno da academia, a gente pode reforçar a ideia do BDS (Boycott, Divestment and Sanction), que é o boicote acadêmico a Israel. Isto é uma coisa que a academia pode fazer. Pode suspender ou se negar a fazer contratos com empresas israelenses, com universidades israelenses.

Esse princípio do BDS deu certo contra o apartheid sul-africano e tem tido ações muito bem sucedidas pelo mundo em torno com o apartheid israelense. Eu penso que é uma boa oportunidade para isso se espalhar por todas as universidades no Brasil e, principalmente, esclarecer a opinião pública e impedir que as universidades façam negócio com um país que oprime e mata os civis palestinos.

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